Com vibração da torcida, Brasil ganha ouro inédito na classe BC3 da bocha


Junto com Antônio Leme, as paratletas Evelyn de Oliveira e Evani Soares da Silva disputam final da bocha BC3 contra equipe da Coréia do Sul nos Jogos Paralímpicos Rio 2016
O Brasil conquistou hoje (12) um ouro inédito na classe BC3 da bocha adaptada. A medalha veio depois de uma partida muito disputada contra a Coreia do Sul. A torcida, que foi chegando aos poucos à Arena Carioca 2, cantou, gritou, vibrou e até brigou com o juiz, que puniu ao time brasileiro após uma jogada na última parcial.
Ao som dos gritos de “Brasil” vindos das arquibancadas, o paratleta Evani da Silva adorou jogar com a torcida a seu favor. “Isso foi sensacional, adorei. Nunca numa partida de bocha tem essa barulheira toda. E incentivou mais ainda, deu mais gás para irmos atrás mais ainda e deu mais gás para correr atrás e a gente conseguiu.”
O Brasil venceu a primeira parcial por 3 a 0, vantagem foi importante nas duas etapas seguintes, quando a Coreia do Sul conseguiu fazer dois pontos. A quarta e última parcial foi polêmica. Após os coreanos posicionarem uma bola difícil de tirar, muito próxima da bola branca, Evelyn de Oliveira conseguiu uma bela jogada e afastou a bola coreana, mas o árbitro invalidou o lançamento. Depois de mais de cinco minutos de conversa com os dois times, a punição foi confirmada, sob muitos protestos da torcida.
A calha – utilizada para que os atletas com menor mobilidade possam jogar a bola – deveria ter sido movida entre uma jogada e outra, o que, segundo o árbitro, não aconteceu. Mesmo assim, o time brasileiro conseguiu outra boa jogada e afastou a bola adversária da bola branca.
Sem mais bolas a jogar, restava aos brasileiros torcer para que o adversário não conseguisse reverter o posicionamento da bola branca. A cada bola coreana que ava longe do alvo, a comemoração de um gol ecoava das arquibancadas. Final de jogo, Brasil 5 a 2 e o Hino Nacional tocado na Arena Carioca 2.
“É fantástico viver essa experiência no Brasil, jogar com os melhores do mundo. Estou extremamente feliz e agradecendo a Deus por ele reservar esse presente para a gente”, disse Evelyn.
Logo após a conquista, o capitão da equipe, Antônio Leme, que fala com muita dificuldade e é ajudado por seu irmão, Fernando, disse que não estava acreditando na medalha.
Fernando é o calheiro de Antônio. É ele que posiciona a calha – sob orientação do irmão – para que a bola seja lançada na direção desejada. O calheiro precisa ficar de costas para a quadra, olhando apenas para o atleta e seguindo suas orientações de posicionamento. O final da partida foi particularmente angustiante para Fernando.
“Se já é difícil para ele que está vendo [a quadra], imagine para mim, que está de costas. É difícil, eu só ouvia o barulho da torcida. A cada barulho era um erro deles, mais um barulho, mais outro, até que acabaram as bolas e a medalha era nossa.”
Esporte adaptado
Na bocha, o objetivo é lançar as bolas coloridas o mais perto possível da bola branca. É permitido usar as mãos, os pés, instrumentos de auxílio e até ajudantes no caso dos atletas com maior comprometimento dos membros. Cada time lança seis bolas por rodada e precisa aproximar sua bola da bola branca e também afastar a do time adversário.
Os atletas são classificados como 1(deficiência mais severa) ou 2 e divididos em quatro classes. Na BC1, estão atletas 1 ou 2 com paralisia cerebral que podem competir com auxílio de ajudantes. Na BC2, atletas 2 com paralisia cerebral que não podem receber assistência. Na BC3, aqueles com deficiências muito severas e que usam um instrumento auxiliar, podendo ser ajudados por outra pessoa. A BC4, por sua vez, conta com atletas com outras deficiências severas, mas que não recebem assistência.


