Marcelo Pimentel se levanta todos os dias antes das 6h. Acorda os dois filhos para irem à escola. Prepara o café da manhã e acompanha os meninos até a porta do colégio, ajudando a retirar as mochilas do porta-malas. Na volta, inicia sua jornada de trabalho como analista de sistemas de um órgão público. Mas à noite, retoma os cuidados com os filhos, auxiliando nos deveres de casa, no jantar e na hora de dormir.
Ufa... rotina cansativa de um típico pai de família. Não fosse pela deficiência visual, Marcelo estaria enquadrado num perfil muito comum na sociedade. Mas ele faz tudo isso sem enxergar. Trinta e cinco anos já se aram desde que ficou completamente cego e o dia a dia o ensinou a romper as barreiras.
A vida do Marcelo tinha todos os ingredientes para que ele não obtivesse sucesso. Além de ser de família pobre, o menino nunca teve o à educação na rede privada e ainda se tornou deficiente visual aos 14 anos. Mas isso não o intimidou. Ele decidiu seguir na área de informática, que era a sua paixão. Ele se formou na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), sendo um dos primeiros alunos cegos do curso nesta instituição.
Mas Marcelo Pimentel foi além: durante a faculdade, criou um sistema operacional todo falado para atender pessoas cegas que quisessem mexer com computador. Ele conta que esse projeto ganhou o Prêmio Jovem Cientista, em 1996, e abriu muitas portas no mercado de trabalho. Ele decidiu sair do Rio de Janeiro e se mudar para Brasília. Aqui, fez muitos concursos públicos e apesar da dificuldade, conseguiu ser aprovado.
Assédio moral. Discriminação. Preconceito. Essa é a realidade que Marcelo já enfrentou em seu ambiente de trabalho, mesmo sendo funcionário público. Ele conta, apesar do bom rendimento, nunca recebeu um cargo de chefia ou uma função comissionada.
O cenário em que o Marcelo vive ainda representa a maioria do mercado de trabalho, mas há empresas que se preocupam não só em cumprir a Lei das Cotas, mas dar oportunidades iguais às pessoas - sejam elas deficientes ou não. É o caso da Serasa Experian, que conta com um quadro de funcionários formado por uma diversidade de pessoas, seja em questões de deficiências, gênero ou raça.
Gabriella Ferreira, diretora de Gestão de Talentos, Diversidade e Inclusão da Serasa, explica que o objetivo é ir além do que determina a lei: é oferecer espaço para todos que desejam crescer e trabalhar.
De acordo com a Lei de Cotas, as grandes empresas devem ter um mínimo de colaboradores com deficiência nos seus quadros, que varia de 2 a 5% do número total de funcionários.
Confira todas as matérias desta série:
Especial Pessoas com Deficiência: leis ajudam, mas devem ser cumpridas
Especial Pessoas com Deficiência: a importância de saber seus direitos
*com produção de Lucineia Marques





